Eu não saberia determinar o exato momento em que percebi que ele poderia ser um parceiro em potencial ou o momento em que comecei a perceber as investidas discretas dele (até porque eu não sou de perceber facilmente algo, dobra-se o nível de dificuldade quando há discrição), mas dessa vez eu percebi. Ou, talvez, eu supus, afogada na minha estonteante vontade de que aquilo se concretizasse, posso ter imaginado reciprocidade no início.
A primeira vez em que nos encontramos ele estava sentado com seu grupo de amigos, existindo apenas dois amigos em comum comigo. E nosso primeiro contato, foi a partir do momento em que eu arranjei o Roberto com Alice (logo aquela que me acompanhava, e por sua vez me deixou longos minutos sozinha). Roberto pouco tempo depois, em uma tentativa, suponho, de retribuir o "favor", tentou fazer uma aproximação forçada entre Thiago e a pessoa tímida que eu era um ano atrás. Enfim, adianto, não se concretizou. Assim como na segunda vez em que nos vimos e nenhuma palavra foi trocada e a definitiva aproximação não foi efetivada. Foi com a troca de contatos e algumas mensagens agraciadas pelo sonambulismo da madrugada que propiciou o real começo dessa história.
As conversas foram suficientes para um reconhecimento de rotina, algumas pesquisas para averiguar compatibilidade dos signos e perceber que ele era o tipo de menino divertido que me atraía. E todos percebiam seu humor e forma descontraída de levar a vida. Ele era imprevisível e eu odiava o tédio da previsibilidade. É, eu não sei porque há tanta relevância nisso, mas ele me fazia rir. Pouco demorou para que começássemos a conversar por videochamadas e até significativas conversas por telefone. Uma grande amizade estava sendo construída e isso tinha como consequência várias horas de risada garantida. Desenrolaram-se alguns meses desde que a troca de mensagens foi iniciada.
Então chegou o dia apavorante em que "nos encontraríamos de verdade" em um restaurante em comemoração do aniversário de Diego (um amigo meu de escola e amigo da família de Thiago) e nós não havíamos conversado sobre nossa suposta situação. Ele havia brincado que esse seria nosso "primeiro encontro", apenas. As conversas pareciam, de certa forma, amizade sem segundas intenções e, ao mesmo tempo, com certa tensão promovida pela forma intencional a qual fomos apresentados um ao outro. Mas, intrínseco em cada mensagem minha, estava presente minha vontade de perguntar "eu devo ter esperanças ou se é só amizade?". Mas eu nunca perguntava.
De primeiros
encontros eu sabia apenas que costumam trazer consigo nervosismo, baixa auto-estima e até a
síndrome do "não tenho roupa". Ainda assim, costumamos ter um script
de como conduzir as poucas horas sentados em um restaurante e evitamos passar a
vergonha exposta nos filmes quando o cara se apaixona pela forma "fofa" da moça ser pateticamente desastrada. Passar
por esse tipo de situação, penso comigo, provavelmente não me trariam muitos
hematomas e litros de aguá desperdiçados com um suor excessivo. Mas e o
nervosismo de um "encontro" no qual o cara ainda não foi, de fato,
fisgado, como proceder?
Marcado para às sete horas do sábado, dia 17, eu dormi na noite anterior imaginando tudo que poderia acontecer quando nos víssemos, acordei ciente que poderiam acontecer três situações, podendo a) nos beijarmos ali mesmo b) conversar como dois amigos normalmente c) não trocarmos uma palavra (de novo). Inconvenientemente, as três situações me deixavam nervosa e com o sentimento de despreparada, mas eu nunca estou definitivamente preparada para algo novo mesmo.
Às quarto da tarde eu já estava separando minha roupa, sim, porque eu demoro longas horas para me arrumar sendo 2/3 dessas horas desperdiçadas em trocas de roupa. Quis usar algo que valorizasse o meu corpo e paradoxalmente tive medo de ser uma noite fria. Pensei, portanto, em usar um vestido tomara que caia, apertando o busto (se eu espirrasse provavelmente o vestido explodiria), e, para o frio, levaria um casaco. Dei escova no cabelo e às 17:30h entrei em um dos banhos mais demorados dos meus últimos anos. Fiz as pernas que ficariam de fora naquela noite e passei cerca de três camadas de sabão. Passei vários produtos para limpar o rosto (por que existe tanto cosmético, meu Deus?) e saí do banho com a certeza de ter alcançado o nível de limpeza de após ter esfolado a pele. Vesti a roupa, coloquei os sapatos e soltei o cabelo que cobriu meus ombros nus. Coloquei um bracelete no pulso esquerdo e sentei na minha escrivaninha para me maquiar. Basicamente passei pó e lápis e fui para o banheiro escovar os dentes. Não passei batom com a esperança de que acontecesse algo naquela noite. Ou talvez porque estávamos saindo para comer pizza e não havia muito sentido passar batom de qualquer jeito. Enfim, saí de casa.
Solto do carro e percebo rapidamente onde me encontro. O restaurante é perto da orla então o casaco me convém. Alice está comigo porque eu a convenci de que seria muito vergonhoso entrar sozinha. O aniversário do Diego acontecia no segundo andar e eu subi as escadarias devagar, com o coração pulsando alto e imaginando a reação dele, contando que ele já tinha chegado. Um pouco antes de pisar no último degrau, respiro fundo e esbanjo relaxamento, entro no ambiente climatizado e sorrio assim que avisto Diego.
Thiago estava lá, sentado e eu demorei um pouco mais de alguns segundos para o avistar. Ele girou sua cabeça em 180° nossos olhos se encontraram e ele sorriu. Caminhei a passos curtos em direção do Diego e o parabenizei, assim como Alice o fez. Haviam três lugares vazios de um lado da mesa e mais dois de frente pra esses, reservados à mim, Alice e aos que faltavam chegar. Eu e Alice começamos a nos direcionar às cadeiras vazias e o Thiago levantou, me acompanhando, pelo outro lado da mesa. Eu e Alice íamos sentando, com o Thiago na minha frente, quando Alice rapidamente pediu para mudar de lugar porque não tinha ninguém do outro lado dela e eu, nervosa, troquei rapidamente, sem pensar com muita clareza. Thiago confuso, quase como em um tropeço, mudou rapidamente de lugar, ficando de novo na minha frente. "oi", ele me disse. Com todo meu nervosismo e coração acelerado, eu respondi com um "e aí?".
O rodízio logo começou e desatamos a comer. Eu tentei comer um pouco mais educadamente, já que em rodízios costumo estar comendo uma pizza e mais duas já me aguardando no prato e muita sujeira por conta do Catchup. Foram cerca de duas horas de rodízio até o momento em que avistamos os sinais de satisfação. Alguns levantando as camisas discretamente e deixando pender as barrigas cheias e outros pedindo licença e indo ao banheiro. O pessoal que restou na mesa resolveu então ir para a área reservada do restaurante onde dava para conversar e beber. O Thiago foi também e só tínhamos trocado uma palavra até o momento. Olhei Alice pelo canto do olho e ela balbuciou "está esperando o que?". Ela tinha razão e eu levantei.
Ele estava de lado para mim conversando com um amigo e eu parei e levantei uma sobrancelha para ele. Roberto abraçou eu e Alice por trás e tirou rapidamente Thiago da minha vista. Quando me recompus e ajeitei o cabelo, Thiago surgiu atrás de mim e sussurrou um "oi de novo" e eu me virei. Aqueles cabelos castanhos escuros e pele clarinha estavam à alguns centímetros de mim, então dei um passo e perguntei se ele queria dançar. Ele respondeu que não sabia dançar e eu disse que não tinha problema, porque eu também não sabia. A gente se aproximou, eu susurrei "tô feliz que você veio", ele sorriu, colocou seus braços em volta de mim e tentamos alguns passos, miseravelmente e paramos porque havíamos pisado o suficiente um no pé do outro.
Ele olhou pra mim e após alguns instantes assim, disse que ia pegar algo para beber e eu acenei com a cabeça, disse que não queria nada e esperei, procurando Alice e Roberto os quais não encontrei mais.
Em pouco tempo Thiago retornou com uma coca que eu peguei da mão dele e tomei um grande gole. Ele ficou me estudando, tomou o resto da coca e colocou em um balcão. Novamente ficamos nos olhando sem trocar palavra alguma e, de repente, nos beijamos. Nos beijamos calorosamente e como quem não pensa no amanhã. Minha mão passeava pelas suas costas até sua nuca e suas mãos me pressionavam para perto dele. Alice gritou um "finalmente" de algum lugar que não consegui, nem quis reconhecer, e assim continuamos por mais alguns momentos.
"Nossa carona chegou", surgiu Alice, eu e o Thiago lentamente nos afastamos e eu, desnorteada, titubeei um "mentira". Eu olhei pra ele, que encostou sua testa na minha e nos abraçamos em despedida. Virei em direção à Alice e ele segurou minha mão, dando assim nosso último beijo. Entristecida, desço as escadarias e assimilo tudo que aconteceu. Na viagem para casa relembro como nos beijamos, sem ninguém falar nada, como nosso beijo se encaixava e, em como eu estava feliz. Como foi gostoso sentir aquele nervosismo e perceber a adrenalina sendo liberada na minha corrente sanguínea. "Deu tudo certo", pensei comigo mesma. Mas na realidade, eu tinha vontade de gritar, com a maior intensidade que eu conseguisse, que aquele meu sonho verdadeiramente se concretizou.
Cheguei em casa, tirei os sapatos e deitei na cama com a mesma roupa, e fiquei parada ali, encarando o teto. Se eu tomasse banho, na minha cabeça, poderia sair aquele cheiro e gostinho de realidade da lembrança. Peguei o celular para ouvir música e o carregador, coloquei na tomada do lado da minha cama e desbloqueei o celular. "Nova mensagem recebida", eu li. Abri descrente quando vejo que sim, era ele. Uma mensagem curta, a qual eu nunca consegui responder. "Eu é que fiquei feliz de você ter ido". Depois de termos conversado, por mais uma madrugada à dentro, eu o disse que aquele foi o melhor dia da minha vida e, de fato, é. Ele me disse que era recíproco e me perguntou o que eu faria no sábado. Eu respondi dizendo que dependeria do que ele iria propor e ele perguntou "cinema?". E foi assim, em um restaurante, em um quase primeiro encontro, que começou a nossa relação.
Às quarto da tarde eu já estava separando minha roupa, sim, porque eu demoro longas horas para me arrumar sendo 2/3 dessas horas desperdiçadas em trocas de roupa. Quis usar algo que valorizasse o meu corpo e paradoxalmente tive medo de ser uma noite fria. Pensei, portanto, em usar um vestido tomara que caia, apertando o busto (se eu espirrasse provavelmente o vestido explodiria), e, para o frio, levaria um casaco. Dei escova no cabelo e às 17:30h entrei em um dos banhos mais demorados dos meus últimos anos. Fiz as pernas que ficariam de fora naquela noite e passei cerca de três camadas de sabão. Passei vários produtos para limpar o rosto (por que existe tanto cosmético, meu Deus?) e saí do banho com a certeza de ter alcançado o nível de limpeza de após ter esfolado a pele. Vesti a roupa, coloquei os sapatos e soltei o cabelo que cobriu meus ombros nus. Coloquei um bracelete no pulso esquerdo e sentei na minha escrivaninha para me maquiar. Basicamente passei pó e lápis e fui para o banheiro escovar os dentes. Não passei batom com a esperança de que acontecesse algo naquela noite. Ou talvez porque estávamos saindo para comer pizza e não havia muito sentido passar batom de qualquer jeito. Enfim, saí de casa.
Solto do carro e percebo rapidamente onde me encontro. O restaurante é perto da orla então o casaco me convém. Alice está comigo porque eu a convenci de que seria muito vergonhoso entrar sozinha. O aniversário do Diego acontecia no segundo andar e eu subi as escadarias devagar, com o coração pulsando alto e imaginando a reação dele, contando que ele já tinha chegado. Um pouco antes de pisar no último degrau, respiro fundo e esbanjo relaxamento, entro no ambiente climatizado e sorrio assim que avisto Diego.
Thiago estava lá, sentado e eu demorei um pouco mais de alguns segundos para o avistar. Ele girou sua cabeça em 180° nossos olhos se encontraram e ele sorriu. Caminhei a passos curtos em direção do Diego e o parabenizei, assim como Alice o fez. Haviam três lugares vazios de um lado da mesa e mais dois de frente pra esses, reservados à mim, Alice e aos que faltavam chegar. Eu e Alice começamos a nos direcionar às cadeiras vazias e o Thiago levantou, me acompanhando, pelo outro lado da mesa. Eu e Alice íamos sentando, com o Thiago na minha frente, quando Alice rapidamente pediu para mudar de lugar porque não tinha ninguém do outro lado dela e eu, nervosa, troquei rapidamente, sem pensar com muita clareza. Thiago confuso, quase como em um tropeço, mudou rapidamente de lugar, ficando de novo na minha frente. "oi", ele me disse. Com todo meu nervosismo e coração acelerado, eu respondi com um "e aí?".
O rodízio logo começou e desatamos a comer. Eu tentei comer um pouco mais educadamente, já que em rodízios costumo estar comendo uma pizza e mais duas já me aguardando no prato e muita sujeira por conta do Catchup. Foram cerca de duas horas de rodízio até o momento em que avistamos os sinais de satisfação. Alguns levantando as camisas discretamente e deixando pender as barrigas cheias e outros pedindo licença e indo ao banheiro. O pessoal que restou na mesa resolveu então ir para a área reservada do restaurante onde dava para conversar e beber. O Thiago foi também e só tínhamos trocado uma palavra até o momento. Olhei Alice pelo canto do olho e ela balbuciou "está esperando o que?". Ela tinha razão e eu levantei.
Ele estava de lado para mim conversando com um amigo e eu parei e levantei uma sobrancelha para ele. Roberto abraçou eu e Alice por trás e tirou rapidamente Thiago da minha vista. Quando me recompus e ajeitei o cabelo, Thiago surgiu atrás de mim e sussurrou um "oi de novo" e eu me virei. Aqueles cabelos castanhos escuros e pele clarinha estavam à alguns centímetros de mim, então dei um passo e perguntei se ele queria dançar. Ele respondeu que não sabia dançar e eu disse que não tinha problema, porque eu também não sabia. A gente se aproximou, eu susurrei "tô feliz que você veio", ele sorriu, colocou seus braços em volta de mim e tentamos alguns passos, miseravelmente e paramos porque havíamos pisado o suficiente um no pé do outro.
Ele olhou pra mim e após alguns instantes assim, disse que ia pegar algo para beber e eu acenei com a cabeça, disse que não queria nada e esperei, procurando Alice e Roberto os quais não encontrei mais.
Em pouco tempo Thiago retornou com uma coca que eu peguei da mão dele e tomei um grande gole. Ele ficou me estudando, tomou o resto da coca e colocou em um balcão. Novamente ficamos nos olhando sem trocar palavra alguma e, de repente, nos beijamos. Nos beijamos calorosamente e como quem não pensa no amanhã. Minha mão passeava pelas suas costas até sua nuca e suas mãos me pressionavam para perto dele. Alice gritou um "finalmente" de algum lugar que não consegui, nem quis reconhecer, e assim continuamos por mais alguns momentos.
"Nossa carona chegou", surgiu Alice, eu e o Thiago lentamente nos afastamos e eu, desnorteada, titubeei um "mentira". Eu olhei pra ele, que encostou sua testa na minha e nos abraçamos em despedida. Virei em direção à Alice e ele segurou minha mão, dando assim nosso último beijo. Entristecida, desço as escadarias e assimilo tudo que aconteceu. Na viagem para casa relembro como nos beijamos, sem ninguém falar nada, como nosso beijo se encaixava e, em como eu estava feliz. Como foi gostoso sentir aquele nervosismo e perceber a adrenalina sendo liberada na minha corrente sanguínea. "Deu tudo certo", pensei comigo mesma. Mas na realidade, eu tinha vontade de gritar, com a maior intensidade que eu conseguisse, que aquele meu sonho verdadeiramente se concretizou.
Cheguei em casa, tirei os sapatos e deitei na cama com a mesma roupa, e fiquei parada ali, encarando o teto. Se eu tomasse banho, na minha cabeça, poderia sair aquele cheiro e gostinho de realidade da lembrança. Peguei o celular para ouvir música e o carregador, coloquei na tomada do lado da minha cama e desbloqueei o celular. "Nova mensagem recebida", eu li. Abri descrente quando vejo que sim, era ele. Uma mensagem curta, a qual eu nunca consegui responder. "Eu é que fiquei feliz de você ter ido". Depois de termos conversado, por mais uma madrugada à dentro, eu o disse que aquele foi o melhor dia da minha vida e, de fato, é. Ele me disse que era recíproco e me perguntou o que eu faria no sábado. Eu respondi dizendo que dependeria do que ele iria propor e ele perguntou "cinema?". E foi assim, em um restaurante, em um quase primeiro encontro, que começou a nossa relação.








