Avulso: modelo educacional - DELTA | Cultura online

Avulso: modelo educacional

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Aulas e motivos para dormir

Acordei atordoada naquela segunda feira, após quatro horas pouco dormidas, vesti o primeiro pé daquela calça jeans que me sufoca e pisquei os olhos com força, na tentativa de acordar, enquanto me esforçava para não cair em prantos por terem sido iniciadas as amedrontadoras aulas, em vão. Não há como escapar da sensação horrível de início de rotina, mau humor e obrigações.
Mas, como em todo ano, eu não tirei o pensamento positivo do meu cérebro, ecoando "esse ano vai ser diferente, vou fazer diferente". Esperança, eu tive, que aquele primeiro dia de aula seria excepcionalmente diferente dos outros. Após perder a esperança, me direciono vagarosamente para o quarto dia de aula, já com conteúdo acumulado. Não que me surpreenda: terceiro ano, vestibular e decidir minha profissão. Não é uma tarefa fácil, de qualquer forma.
Após um mês e meio de aula, ainda estava empenhada para fazer deste, um ano memorável. Qual primeiro passo dei para esse ano ser diferente? Afundei, literalmente, nos livros. Matando-me em aulas pouco explicativas de um modulo que já maltratava minha coluna. Desesperada, dormindo no auge das madrugadas e, portanto, dormindo nas aulas também. Alguns professores já sinalizaram. Como proceder corretamente, sem tempo algum?
Disseram-me para não perder as esperanças (de novo). "Se os outros conseguem, você também é capaz, Brenda". Essa frase em nada me ajudou a não ser a entender a significação de capacitores elétricos em uma videoaula qualquer. Sim, entre muitas outras frases motivadoras, afirmando-me para investir, só aumentava minha vontade de desistir, se é assim que funciona pressão psicológica. "Você se estressará, mas dará tempo". Garantiram-me. E agora, que não deu? Cadê todos os pronunciadores dessas frases?
Minha suspeita se concretizou: Não tive tempo para os outros ou para mim, tive somente para minha chinchila porque esta depende literalmente da minha disponibilização de tempo para sua sobrevivência.
Não obstante, no Festival de Verão, fiz essa tatuagem de henna no braço, simbolizando o que não tenho, nunca tive, mas sinto falta: liberdade. Liberdade de ir e vir - voar. De não me importar com a responsabilidade de passar de ano. Liberdade de poder escrever o que eu sinto e não me restringir à dissertação-argumentativa. Acho, afinal, que essa é a pior falta à ser sentida: a da liberdade que nunca tivemos.
Não, eu não sou a favor de abolir aulas, abandonar metas e, em conjunto, irmos vender arte na praia. Eu só queria ter a sensação de poder tirar um dia pra mim e não ter seis assuntos acumulados. Eu queria poder passar o dia me entupindo de Netflix, sem me sentir culpada por isso. Queria uma metodologia de ensino saudável e não cansativa. Que estimulasse meus potenciais, não somente obrigando-me a gravar matérias que não me enchem os olhos. Não queria, por fim, fazer um texto sobre reformas educacionais, tampouco fazer propostas de intervenção. Só queria, de fato, que se preocupassem que esse sistema de "cada vez mais aulas" que em mim, pelo menos, dá é mais motivos para dormir.   

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