Tensão entre China e Estados Unidos:
Entenda como a guerra comercial ameaça a economia
Brenda Sales e Evelin Portugal
O Departamento do Comércio Americano informou que a economia dos Estados Unidos cresceu 2,8% em relação ao PIB de 2017. Mesmo sem alcançar os números de 2014, no segundo trimestre de 2018 o PIB chegou a 4,2% da taxa anual. De fato, o estímulo fiscal, o aumento de gastos do governo e os cortes de impostos trazidos pelo governo Trump, estimularam o crescimento da economia norte-americana.
Em entrevista ao veículo BBC, Mark Zandi, do Moody's Analytics, diz que agora estamos experimentando o ‘’boom’’ e que isso pode não durar nas próximas décadas, a partir do momento em que o estímulo fiscal tiver necessidade de redução e as taxas de juros ficarem mais altas.
Donald Trump tem investido na valorização do mercado de ações dos Estados Unidos, segundo os dados da Média Industrial Dow Jones, o governo Trump avançou consideravelmente comparado ao governo de Barack Obama.
Em função do governo Obama, as taxas de desemprego nos EUA vêm diminuindo. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho, a taxa é de 3,7%, considerada a mais baixa desde 1969. Porém o salário dos norte-americanos não sofreu muitas alterações, devido a inflação o aumento ficou em 2,7% do valor real.
A mudança do perfil da mão-de-obra norte americana, se tornou um fator principal para a diminuição da taxa de desemprego, o que motiva é a grande quantidade de trabalhadores mais velhos e com uma formação, que são considerados minorias em questão de desemprego.
De acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho, a população negra dos Estados Unidos também sofreu uma queda, equivalente a 5,9% no percentual de desemprego, o que aconteceu desde antes do governo Trump, mas que vem diminuindo no decorrer de sua regência.
As atitudes radicais tomadas do governo dos EUA em relação à China não trarão boas consequências, pois, para manter uma economia estável é necessário conservar laços com redes produtivas globais.
Em seu discurso de posse, Donald Trump enfatizou seu protecionismo econômico afirmando que “De hoje em diante, uma nova visão vai governar nosso país. A partir deste momento, vai se impor o ‘a América em primeiro lugar’. Cada decisão em matéria de comércio, impostos, imigração ou relações internacionais será tomada de forma a beneficiar os trabalhadores e as famílias norte-americanas”, disse.
O lema ‘’América em primeiro lugar’’, trazido pelo presidente Trump, em exercício acaba rompendo laços comerciais multilaterais e prevê negociações mediante a força e o poder de cada país. A saída dos Estados Unidos da Parceria Transpacífico (TPP, a sigla em inglês), o ajuste do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e o mandato a Wilbur Ross, secretário de Comércio, contribuem para a regressão comercial dos EUA.
Por sua vez, a China vê o protecionismo de Donald Trump como um ataque e nota a necessidade de revidar, o que gera uma guerra comercial. O governo norte-americano divulgou, ainda com retaliação do governo chinês, tarifas de importação contra os produtos chineses e restrições de investimento.
O objetivo de Trump é reduzir o déficit de sua balança comercial em US$ 100 bilhões com a China, desta forma, anunciou taxas sobre o aço e o alumínio. Em contra-ataque a China taxou mais de 100 produtos americanos e em resposta os EUA divulgaram uma lista de mais de 1,3 mil produtos chineses com interesse de aumento de taxa de até 25%.
Segundo Niall Fergusson, as guerras comercial, cambial e de informação são sintomas de um conflito mais amplo entre os Estados Unidos e a China, com participação da Rússia. ‘’Estamos entrando em um novo período em que a relação EUA e China está se deteriorando. E isso não é apenas por causa da eleição de Trump. É também porque as políticas chinesas têm alienado virtudes americanas e aspectos de liderança internacional’’, disse Niall.
Niall ainda completa que o prejuízo dessa guerra será maior para a China, por conta das exportações chinesas para os Estados Unidos, que são maiores do que as exportações dos EUA para China. ‘’Provavelmente o choque para a economia chinesa será quatro vezes maior do que para os EUA’’, afirma. Para ele os países podem entrar em uma Guerra Fria, porém, por conta da interligação que existe entre as duas potencias mundiais, tais como universidades, estudantes intercambistas e proprietários de imóveis em ambos os países, dificulta a execução.
Com relação com o Brasil, que exporta commodities e importa manufaturados, em entrevista ao veículo BBC, Penelope Prime, diretora do Centro de Pesquisa da China na Universidade do Estado da Georgia (EUA), afirma que "O ponto negativo é que essas tensões podem desacelerar o crescimento global, o que poderia prejudicar os
mercados emergentes, tanto em termos de exportações, quanto em relação ao crescimento do investimento estrangeiro".
JUROS AMERICANOS
Os Estados Unidos têm o Federal Reserve System (FED), ou Reserva Federal, que é o sistema de bancos centrais Estado Unidense, o qual conglomera um grande número bancos, não se tratando, portanto, de um segmento do Estado. Sua gestão é um encargo do Conselho Fiscal, formada por membros designados pelo presidente da república.
A principal atribuição do FED é prezar pela estabilidade do sistema financeiro dos EUA, tentando evitar a inflação e a deflação, “gerindo” a reserva monetária através da política monetária. Assim, a atividade primordial tem a pretensão de fortalecer a economia Estado Unidense frente ao mercado mundial.
A ele cabe também supervisionar a atuação dos bancos privados e evitar ou remediar o banking panics, que de acordo com Charles W. Calomiris e Gary Gorton, no artigo “The Origins of Banking Panics: Models, Facts, and Bank Regulation”, é frequentemente associado “with events in which banks fail, such as a recession, or in which there is financial market turmoil, such as stock market crashes”. Isto é, o termo está relacionado com eventos nos quais os bancos falham, como uma recessão, ou em que há turbulência nos mercados financeiros, como os crashes das bolsas de valores.
Por outro lado, ao tratar da taxa de juros americana, esta é relacionada com a Federal Funds Rate, que é a taxa de juros na qual as instituições depositárias, como bancos e cooperativas de crédito, emprestam saldos de reserva a outras instituições depositárias durante a noite (empréstimos overnight).
Já o Reserve Balance, ou a taxa de Fundos Federaos, por sua vez, é a quantia mantidas no Federal Reserve para manter a exigências de reserva das instituições depositárias. As instituições com saldos excedentes em suas contas emprestam esses saldos às instituições que necessitam de saldos maiores. Além de ser uma referência importante nos mercados financeiros, esta taxa de juros é determinada pelo mercado e não pelo FED.
Este ano, o FED aumentou a taxa de juros três vezes, de acordo com o G1. Segundo o veículo, na última vez em que esse fenômeno ocorreu, em setembro deste ano, os juros saíram do intervalo de 1,75% a 2% ao ano para a faixa de 2% a 2,25%, sendo a alta já esperada pelo mercado, deste a subida de junho e por ter elevou a taxa básica oito vezes desde o fim de 2015.
Para o G1, o Fed indicou o fim da era de política monetária "expansionista" e deixou a sua perspectiva de política monetária para os próximos anos praticamente inalteradas em meio ao crescimento econômico estável e a um mercado de trabalho forte no país. O banco central dos EUA ainda prevê outro aumento de juros em dezembro, mais três em 2019.
Com essa alta de taxas, os Estados Unidos atraem investidores internacionais em busca de retornos maiores, o que quase sempre impulsiona o valor do dólar, fazendo com que outras moedas se desvalorizem diante da norte-americana.
Por outro lado, na terça-feira (4), após dia tenso nas bolsas, mercado de títulos nos EUA sinaliza recessão. De acordo com Matt Phillips, jornalista do New York Times, as ações caíram na bolsa dos Estados Unidos, depois que o presidente Trump semeou confusão quanto ao status da trégua na guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, enquanto o mercado de títulos, que os investidores muitas vezes veem como porto seguro, lançava um alerta grave sobre as expectativas de uma desaceleração econômica.
Nesta quarta-feira (5), o FED publica a nova versão de seu tradicional livro bege, um relatório sobre as condições econômicas em cada um dos 12 distritos onde atua, publicado oito vezes por ano. De acordo com a EXAME, os títulos de dez anos do Tesouro americano caíram abaixo de 3% esta semana e, pela primeira vez desde setembro, com a expectativa de que o ciclo de aumentos nos juros, iniciado em 2017, esteja perto do fim.
No início de outubro, o presidente do FED, Jerome Powell, havia afirmado que os juros tinham “um longo caminho” até chegar ao ponto de neutralidade. Investidores esperam agora apenas mais um aumento nos juros americanos, ante previsão anterior de três aumentos. Para o Brasil e seu novo governo, é positivo a queda nos juros dos EUA, visto que ajudam na tarefa de atração de investimentos para os países emergentes.
ECONOMIA CHINESA
A China é considerada uma das economias mundiais que mais cresce no mundo. Seu Produto Interno Bruto (PIB) atingiu, em valores correntes, US$ 12 trilhões ou 82,7 trilhões de iuanes em 2017, com crescimento de 6,9%, fazendo deste país a segunda maior economia do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos.
Segundo Thaís Pacivitch, doutora em Educação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a economia chinesa, depois de passar séculos dependendo quase inteiramente de seu setor agrícola e de experimentar as mudanças, trazidas pela revolução comunista de Mao Tse Tung, experimentou a partir da década de 70 um grande crescimento econômico, o país se abriu a investimentos estrangeiros, após a chegada ao poder de Deng Xiaoping em 1979.
As autoridades chinesas propuseram quintuplicar o PIB até o ano 2000, fato alcançado em 1995, mediante uma abertura econômica e com a introdução da chamada Economia Social de Mercado.
Segundo a doutora, a principal estratégia do governo para atrair os investimentos estrangeiros tem sido oferecer pacotes de incentivos fiscais e um marco regulador “frouxo” em termos de direitos laborais e de proteção ambiental, que, aliado ao baixo custo de investimento inicial e à mão de obra barata, fizeram da China o principal destino de investimentos estrangeiros em nível mundial.
De acordo com a Isto É, em matéria divulgada nesta quarta-feira (5), O Conselho Estatal da China, como é conhecido o gabinete do país, anunciou medidas para impulsionar o emprego, num momento em que começam a surgir sinais de arrefecimento no mercado de trabalho.
Indicadores recentes mostram que empregadores no país asiático pretendem reduzir seus quadros de funcionários, em parte devido às incertezas ligadas à disputa comercial com os EUA, embora as taxas oficiais de desemprego venham mostrando estabilidade nos últimos meses.
Para Phillip P. Pan, jornalista do New York Times, A China hoje lidera o mundo em número de proprietários de residências, usuários de internet, formados em faculdade e, segundo algumas contagens, bilionários. A pobreza extrema caiu a menos de 1%. Um país atrasado e isolado evoluiu para ser o mais importante adversário dos EUA desde a queda da União Soviética.
Com o líder Xi Jinping impondo uma agenda mais assertiva no exterior e enrijecendo os controles no país, o governo dos EUA lançou uma guerra comercial.
Segundo Aidan Yao, economista do veículo “South China Morning Post”, a China é uma economia endividada, com um modelo de crescimento insustentável; um sistema financeiro conturbado atormentado por empréstimos inadimplentes e riscos de shadow banking; um mercado de grandes capitais, mas fechado, incapaz de canalizar liquidez eficientemente; e uma base populacional que está envelhecendo em um ritmo alarmante.
Para ele, no cenário de soft landing, os desequilíbrios estruturais se desenrolam gradualmente, as bolhas de ativos são esvaziadas em um modelo de “não-crise” e a economia diminui progressivamente para um novo equilíbrio. A saúde do sistema é restaurada, não pelas forças do mercado (portanto, não há crises nem décadas perdidas), mas por políticas macro eficazes. Este é um cenário preferido pela China, e é o que Pequim está tentando projetar para o futuro.
Por outro lado, em julho deste ano, a China afirmou, de acordo com o Valor Econômico, que está "totalmente preparada" para a guerra comercial com os EUA. Washington deveria começar a cobrar tarifas sobre US$ 34 bilhões em importações chinesas, enquanto Pequim prometeu retaliar com tarifas iguais sobre US$ 34 bilhões em produtos norte-americanos. Isto é conhecido como absorção de impacto e de “guerra” via reciprocidade tarifária”.
"Esperamos que os EUA ofereçam condições de igualdade para o investimento e a operação das empresas chinesas nos EUA e façam algo propício à confiança mútua", afirmou o ministério das Relações Exteriores chinês, Lu Kang.
Segundo Brian Chappatta, no Economia UOL, é natural que se pense que alguns dos maiores credores dos EUA, a China, possa retaliar o país americano, parando de comprar sua dívida pública. A percepção de um recuo mínimo pela China, dona de quase US$ 1,2 trilhão em Treasuries, causa tensão no mercado mundial.
Poucos traders esperam que China ou Japão vendam Treasuries em massa e de maneira abrupta. Afinal, as quantidades que detêm são tão grandes que um movimento desses prejudicaria o valor de seus próprios ativos.
Os 20 países mais ricos do mundo, integrantes do G20, se reuniram neste sábado (1), com o objetivo de assinar um documento em defesa do livre comércio. O encontro de Trump e o presidente chinês Xi Jinping, terminou em uma trégua comercial entre Estados Unidos e China. O presidente chinês ainda declarou que ‘’ a cooperação entre os dois países é a melhor maneira de colaborar para a paz e a prosperidade no mundo’’.
Sabe-se que a guerra comercial é desfavorável às economias de todos os países, visto que deixa o mercado das duas maiores potências mundiais mais instáveis. Ao Brasil, cabe torcer por uma redução de juros na economia americana e continuar com suas relações comerciais com a China, elevando nossas exportações, fortalecendo a parceria com o país asiático frente aos projetos de infraestrutura brasileiros, nos setores de energia e de logística que apontam para uma relação de longo prazo, avalia o professor de relações internacionais da ESPM, José Luiz Pimenta.
05/12/18








