Acordei com o alvoroço da sala de aula e não percebi que já havia começado o terceiro horário. Tentei me situar usando todas as minhas forças para que meus olhos não fechassem, quase em vão. A professora posicionou-se atrás da grande mesa e observou a turma por alguns segundos. Fiquei inquieta e ansiosa sem entender essa atitude incomum. Ela inclinou a cabeça e explicou-nos o desprezo que sentia:
"Levei vocês a uma aula de campo, depois de tanto esforço para conseguir tirar toda a série do colégio e vocês fizeram tanto eu quanto o colégio passar vergonha. Vocês não se comportaram, apenas. Não existe desculpa 'são adolescentes', vocês não tem noção básica de comportamento." E praticamente dissertou sua opinião. Fiquei boquiaberta sem discernir tudo que ouvia. No último horário, o outro professor que guiou-nos na aula de campo fez praticamente o mesmo discurso. Tristeza. Desprezo. Pouco provável que alguma experiência assim venha a se repetir tão cedo. Olhei pros meus colegas. Suma maioria no auge de seus 15, 16 anos. O que levou adolescentes teoricamente com mínima formação de caráter e semancol à não se importarem se estão atrapalhando os outros e não terem o mínimo de postura em ambiente público? Pensei em minha amigas e eu na mesma aula, estávamos conversando e se comportando como tal? Não 'é coisa de adolescente', nos comportamos de maneira mal-educada e errônea. Meu pensamento então foi: o que nos levou a isso?
A resposta era clara, quando você está rodeado de amigos, preocupa-se menos com a maneira de se portar em determinadas ocasiões. Foi o ocorrido. Não justifica, devíamos ter pensado em nossas atitudes. Devíamos ter nos importado se estávamos incomodando o outro -não só naquele dias, mas todos os outros. Devíamos ter nos comportado e agora não precisar ouvir sermão de professores por causa de comportamento, o que chega a ser vergonhoso. Devíamos, devíamos, muitos devíamos não? Quando vamos parar de dever?
A primeira professora que abordou esse acontecimento, fez uso de uma frase genial: "macho e fêmea todo mundo nasce. O que te torna homem ou mulher são suas ações. Não se afastem de sua condição de humano." Clichê soou logo quando ouvi, mas nenhuma outra frase neste dia teve tal impacto sobre mim. Naquele dia, comportei-me como uma fêmea, a partir de que momento me posicionarei para comportar-me como mulher?
Não sei meus outros colegas que ouviram aquele discurso, mas eu cheguei à conclusão: já tenho caráter formado o suficiente para não me comportar mais como uma criança. Agora está na hora de parar de agir como fêmea, e assumir comportamento de uma mulher.








