Crítica: "Desobediência" - DELTA | Cultura online

Crítica: "Desobediência"

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Ficha Técnica:

Data de lançamento: 21 de junho de 2018 (1h 54min)
Direção: Sebastián Lelio
Elenco: Rachel Weisz, Rachel McAdams, Alessandro Nivola mais
Gêneros: Drama, Romance
Nacionalidade: EUA
Título original: Disobedience
Distribuidor: SONY PICTURES
Ano de produção: 2017
Tipo de filme: longa-metragem

SINOPSE E DETALHES

Não recomendado para menores de 14 anos
A fotógrafa Ronit (Rachel Weisz) retorna para a cidade natal pela primeira vez em muitos anos em virtude da morte do pai, um respeitado rabino. Seu afastamento foi bastante abrupto e o reaparecimento é visto com desconfiança na comunidade, mas ela acaba acolhida por um amigo de infância (Alessandro Nivola), para sua surpresa atualmente casado sua paixão de juventude, Esti (Rachel McAdams).

Crítica
contém spoilers

O longa-metragem é iniciado sem apresentar muitos elementos da vida ou do psicológico da vida de Ronit (Rachel Weisz), a protagonista do filme. É uma escolha audaciosa do roteiro e da direção: tentar fazer-nos identificar-nos com esta personagem, antes mesmo de conhecê-la.
Ronit recebe uma ligação importante, em Nova York e retorna à Inglaterra, país em que nascera. São os primeiros diálogos com seu amigo que indicam os temas a serem aprofundados: a morte do pai, não estar presente em sua doença, sobre ela ter escolhido abandonar a comunidade judaica e as tradições. Sobre toda a desconfiança e olhares que são lançados para ela, durante todo o filme.  
Ao chegar na Inglaterra, o filme tem fotografias mais acizentadas, brancas e preto. Parece que está voltada por um clima de luto, sempre está nublado, nas filmagens externas sempre há uma neblina. São trazidos problemas que a protagonista apresenta, "será que eu gostava tanto do meu pai como todos esses estranhos gostavam dele?". Quando há planos detalhes, ela sempre se mostra angustiada.
Em pouco tempo, outro desconforto nos é trazido: Na infância, Ronit desenvolveu sentimentos amorosos por Esti, o que acarretou em toda uma rejeição da comunidade, pequena e conservadora. Esti se vê obrigada a se casar, principalmente com o desaparecimento de Ronit, mas claramente está infeliz, não parece gostar de seu marido, ou até mesmo de homens, no geral.  
É interessante no filme se introduzir na cultura judaica, ver alguns de seus rituais, rezas e momentos. As relações humanas parecem ser fragilizadas no filme, dentro do casamento e nas amizades. As trocas de olhares são significativas, mas parece que não há amor, ou contato físico. 
Ronit se mostra incisiva em dizer que não sabia que seu pai estava doente, mas parece se sentir mal por não ter estado com ele em suas últimas horas e por parecer que não o amava. Ele não deixa herança para ela, deixa toda a herança para a sinagoga. Começamos a sentir-nos injustiçados por ela, não parece certo ela ser tratada daquela forma, rejeitada, humilhada, maltratada, deixada até mesmo sem herança. 
O retorno de Renit a comunidade abala a vida e os sentimentos de Esti, e elas se beijam pela primeira vez no longa, a fotografia e a sonoplastia começa a mudar para mais felizes, há mais tons de azul e amarelo, parece que não está mais tão nublado. As pessoas começam a suspeitar. É com essa descoberta que começamos a entender melhor a sexualidade das duas, a protagonista, bissexual, mas que apenas se envolveu com Esti de mulher e a segunda, por sua vez, homossexual, descontente em estar casada com um homem. 
Acontece o conflito de descobrirem que elas ficaram juntas, o marido de Esti descobre e eles discutem. A fotografia do filme permanece diferente, é um bom trabalho do diretor de fotografia. É um bom trabalho da direção de música também, o coral cantando da a angústia que os personagens voltaram a sentir. 
Surge o segundo conflito, Esti supostamente desaparece, o longa nos leva a pensar até mesmo que ela poderia ter retirado a própria vida mas, na verdade, ela está grávida e quer sua liberdade para criar seu filho, para que ele possa decidir se que fazer parte desta comunidade ou não. Ela pleiteia essa vontade diante do marido.  
O marido de Esti parece transtornado. Ele fala que "vocês são livres" e que não pode aceitar a oferta de ser rabino que lhe é oferecida. Os três se abraçam, parece que não há mais pendências. O filme não é apenas sobre desobediência, mas sobre as escolhas que fazemos e suas consequências. Esti prefere ficar, vai criar seu filho. 
Renit tira uma foto do tumulo de seu pai, diz que um de seus maiores arrependimentos é nunca tê-lo fotografado. 
É um longa audacioso, nas cenas de sexo, na abordagem da sexualidade, na  dificuldade em trazer certa criticidade à religião e a tradição, e na escolha de retratar dramas internos a cenas de choros e discussões. As próprias conversas entre os rabinos e estudantes dos textos judaicos pairavam sobre a questão da liberdade, do amor e do livre arbítrio. Até que ponto nós, criado de diferentes maneiras e em diferentes religiões, poderíamos julgar aquela rejeição da comunidade, principalmente visto que era com a Ronit que eramos levados a nos identificar? 
É um clássico filme Cult que nos permite conhecer um pouco mais de uma outra cultura e nos acrescentar mais conhecimento através de um outro ponto de vista. Um filme que vale a pena ser assistido, principalmente se o espectador estiver disposto a se introduzir em um ambiente de empatia e reflexão. 

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