Crítica: Capitão Fantástico - DELTA | Cultura online

Crítica: Capitão Fantástico

Share This

Ficha técnica 

Capitão Fantástico (2016) (Captain Fantastic) País: EUA Classificação: 14 anos Estreia: 22 de Dezembro de 2016 Duração: 90 min. Direção e roteiro: Matt Ross Elenco: Viggo Mortensen, George Mackay, Samantha Isler, Annalise Basso, Nicholas Hamilton, Shree Crooks, Charlie Shotwell, Trin Miller, Frank Langella e Steve Zahn

Resenha 

Capitão Fantástico é um filme capaz de causar várias reflexões em um curto período. O filme foi exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes (2016) e Viggo Mortensen concorreu ao Oscar de melhor ator. O primeiro ato já começa com uma fala emblemática, sobre a possibilidade de Marxistas serem genocidas tais como os capitalistas. Um dos temas centrais do filme será a contraposição entre esses dois elementos, que será retomado em outras falas durante o longa. Essa ruptura com o sistema capitalista é, inclusive, um dos fatores que move a família a vivar de uma forma peculiar. 
A história é de dois pais que resolvem morar em uma área florestada, distante da civilização e da criação comum de seus filhos, longe do ambiente escolar e de outras crianças da mesma idade. A exclusão seria uma das formas de revolução Marxista, porém individual e não coletiva. Posteriormente, por motivos de doença da esposa (Trin Miller), apenas o pai (Viggo Mortensen) continua criando os meninos daquela forma, em respeito também a escolha que fizeram.
Até o momento, o espectador é levado a estar de acordo com os ensinamentos dados a essas crianças. Tendo entre sete a dezoito anos, elas se exercitam todos os dias, leem livros específicos de física quântica, filosofia e diversos outros assuntos que só seriam abordados em universidades, além de não endeusarem as datas comemorativas corriqueiras dos Estados Unidos. Aprendem como sobreviver na mata, mas também entendem de música e conhecem de cor a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não parece que as crianças estão perdendo nada fora do ambiente escolar, muito pelo contrário, parecem mais espertas e desenvolvidas que as mesmas de sua idade. 
Ou seja, o diretor (Matt Ross) trabalha o filme para colocar o espectador em local de submissão e concordância ao ideal e modelo proposto por Ben. Você é conduzido a pensar que se eles possuem pensamento crítico e até mesmo referências científicas e culturais, o afastamento da sociedade não traz nenhum aspecto negativo, o que seria até mesmo uma visão Rousseauniana. Você permanece sendo conduzido a pensar assim, até a chegada do ponto problema, no qual você começa a mudar de ideia, o que dá indícios de um bom trabalho de direção.
A problemática se inicia com o recebimento da notícia da morte da mãe Leslie e a família se vê em posição de partir em viagem para impedir a realização da cerimônia católica, para realizar o desejo da mãe, previsto em seu testamento. A partir deste momento, começa-se a questionar a criação de Ben, o pai dos meninos. 
Ao pegar o ônibus eles precisam se articular para, por exemplo, assaltar uma loja de conveniência, para pegarem alimentos. É notável, em diálogos do Bo (George Mackey) que ele não possui habilidades de conversação com outras pessoas, mostrando que ele deixou de se desenvolver socialmente e isto, inicialmente, o impede de fazer amigos e flertar. O amadurecimento de Bo e Rellian (Nicholas Hamilton) é focado a partir desde momento e são os únicos, dentre as demais crianças, a possuir um arco dramático definido. 
Outras situações problemas vão surgindo, como o momento em que a irmã questiona Ben de permitir que a filha mais nova ingira bebida alcoólica. Apesar de sua argumentação e a reiteração de que ele cria os meninos da maneira que achar melhor, o espectador já critica Ben. Mesmo quando ele tenta provar que suas crianças estão muito bem, ao fazer uma competição entre Zaja (Shree Croocks), sua filha mais nova de sete anos, e o seu sobrinho de doze, frequentador de uma escola, mas não sabe responder as perguntas que lhe são direcionadas, enquanto Zaja responde e as responde de forma impressionante, para alguém de sua idade.  Finalmente, iniciam-se conflitos com os avós, que fazem Ben se questionar se está cuidando direito dos meninos, ou se os avós ricos seriam capazes de fornecer-lhes melhor educação. 
O filme é divertido e muito inteligente. O roteiro é bem trabalhado, em levar o espectador a criticar a sociedade, mas no conflito como os avós, revelar que mais somos cúmplices de abuso infantil e, até mesmo, do risco de morte. Apesar de mais parecer um filme independente, é  feito um ótimo trabalho com o design de produção, fotografia e montagem. Inclusive, não é atoa que Vigo Mortensen foi indicado ao oscar, é explícito o seu excelente trabalho de atuação na pele de Ben.
Outra questão que precisa ser trazida é a eficácia da trilha sonora, inclusive quando o clássico "Sweet Child O' Mine" é trazido e emocionando fortemente através do contexto cinematográfico. É um filme que, definitivamente, não tem medo de explorar seus momentos mais marcantes e a palheta de cores também é muito bem escolhida. Como um filme indie mas que se aproxima das produções convencionais Hollywoodianas, o filme cumpre o papel a que se propõe e deixa reflexões agradáveis no espectador.




Matérias mais lidas

Confira como está o trânsito nas principais vias da cidade

Pages