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Ativistas de sofá?

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Blogueiros e a formação da opinião pública:
Ativistas de sofá?

Por Brenda Sales
Com os avanços tecnológicos, o "boom" da internet ressignificou a vida e os laços humanos. De acordo com dados fornecidos pela Carta Capital, a internet tem 40% da população mundial conectada 24 horas por dia. Outra característica da pós-modernidade viria a ser a difusão da informação e a democratização do conhecimento -na medida do possível. Assim, um fenômeno intrigante surgiu, que é a ascensão de blogueiros e youtubers como influenciadores digitais. Não obstante, o jornalismo, a publicidade e o marketing também precisaram se reinventar. Os dois últimos perceberam como estratégia inclusive, veicular marcas às celebridades da internet. Já o jornalismo pode encontrar obstáculos ao se deparar com formadores de opinião que as vezes noticiam fatos, ou os analisam, sem embasamento teórico, sem seleção de fontes, podendo até inferir informações não verídicas. 
Os processos políticos, por exemplo, são assuntos corriqueiros para esses produtores de conteúdo em específicos, os quais podem ou não ter argumentos e fundamentação, ou podem também se contradizer. Não é incomum youtubers que haviam um discurso em 2011, apresentar outro completamente contrário nos dias atuais. A preocupação se sustenta na quantidade de seguidores os quais reproduzirão a mensagem sem filtrar ou procurar outro viés do mesmo assunto, talvez mais consistente, por sua vez. Um exemplo é, muitos seguidores do canal Porta dos Fundos, admiradores do Gregório Duviver, levantaram-no como voz e bandeira da esquerda, quando na verdade esta não conseguiria ter apenas um representante, já que a própria não consegue entrar em consenso em diversos aspectos, tal como muitos outros movimentos.
Os valores também podem fazer parte da reprodução. Se o famoso X, afirmou Y então Z é o certo e ninguém pode afirmar o contrário, pois haverá indivíduos respondendo com intolerância. Há blogueiros inclusive que incitam discussões arbritárias e há quem use esse meio de comunicação para enaltecer críticas sociais e promover o empoderamento. Há quem siga desde Leonardo Sakamoto à Kim Kataguri desencadeando em outro aspecto: até que ponto nos tornamos revoltosos de facebook?
Quem vê os ciberativistas, “vomitaços” e campanhas pedindo compartilhamentos e likes como forma de manisfestação, imaginaria que até os jovens perderam seu ímpeto revolucionário. Entretanto, nunca temas como gênero, sexualidade, transexualidade, sexo biológico, dentre outros, foram tão discutidos e difundidos. Por exemplo, se você é mulher e tem acesso a internet, mesmo que não se declare feminista, provavelmente você já ouviu falar no movimento. Uma das preocupações agora é como fazer esse feminismo chegar nas periferias? Emponderar mulheres pobres, negras, que já sobreram abuso ou aborto? Como fazê-las tomar consciência de classe? Como fazer esse ativismo ir além de facebook e atingir quem mais precisa dele?
Há iniciativas contra o ativismo de sofá, derivado do neologismo em inglês slacktivism. No Acre, desenvolveram o “Geração atitude” para promover a consciência política. Foi inclusive com organização em mídias socíais que “as revoltas de junho” tomaram tamanha proporção. Com esse novo método, também surgiu o coletivo Anonymous, mobilizador de protestos, dentre outras funções. A série Mr. Robot, inclusive, é uma série sobre ciberativismo.
Bauman dirá que “muita gente as usa (as redes sociais) não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto” em entrevista para a El País. “São uma armadilha”, completou.

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