Resenha: A forma da Água - DELTA | Cultura online
O filme a Forma da água, dirigido e escrito por Guillermo Del Toro, se passa no começo dos anos 60 e conta a história de uma zeladora muda que trabalha em um laboratório secreto do governo dos Estado Unidos e desenvolve sentimentos por uma criatura, que se apresenta aprisionada nesse mesmo laboratório. O contexto histórico do filme é o da Guerra Fria, nome dado ao período em que os EUA e URSS travavam conflitos indiretos e disputas estratégicas, e com esse contexto muitas outras histórias, paralelas ao romance principal, ocorrem. O filme, mais do que apenas um romance, é também uma ficção cientifica e uma fantasia, demonstrando assim um enredo bem elaborado e complexo, digno de Oscar.

Logo no início do filme é possível perceber o objetivo do diretor em transformar a historia em um conto de fadas, praticamente iniciado por um típico “Era uma vez”, o que não seria desagradável, principalmente pelo equilíbrio que é feito com o ar melancólico, característico de Guillermo Del Toro, o filme é narrado do seu exórdio como que lido de um livro de fabulas e o introduz com a belíssima frase que define o romance núcleo do filme – mas não da forma convencional a que estamos acostumados-, “Um conto de amor, perda e um monstro que tentou destruir tudo isso”.
O início do filme traz, também, elementos semióticos muito significativos: tudo está imerso na água. Desde os primeiros momentos, no sono, em que tudo está submerso, até o momento em que a protagonista acorda, entra na banheira ou começa a cozer os ovos dentro da água borbulhante. São elementos que, o tempo todo, remete que a história se passa dentro da água. As cores do filme ajudam a causar essa impressão, as cores escuras assemelhavam-se com um oceano profundo. 
A trilha sonora do filme é, também, um trabalho impecável, realizado pelo vencedor do Oscar, Alexandre Desplat, com O Grande Hotel Budapeste (2014). Com músicas que foram marcos ao redor do mundo, há um certo momento na película que há quase um tributo a La La Land (2016). Até o Brasil teve seu momento de destaque, ao reproduzir a música "Chica Chica Boom Chic", de Carmen Miranda.
A historia nos envolve de uma forma que é difícil de ser descrita. A riqueza de detalhes e histórias paralelas nos colocam ainda mais imersos no universo que nos é apresentado. O amor, que deveria parecer impossível, é trabalhado de forma natural e pouco vulgar. O romance construído com pouquíssimos diálogos nos faz acreditar que aquilo é real e possível – o que de fato é, dentro do filme- e o vilão consegue ser mais que odiado, da forma que deveria ser. A forma que Del Toro trabalha o romance sai completamente do convencional e se mostra como algo inovador, transbordando de novos frissons e nos fazendo vivenciar algo semelhante ao que seria a fusão de Romeu e julieta e a Bela e a Fera.
A personagem principal, Eliza, interpretada por Sally Hawkins, sem usar uma única palavra consegue ser extremamente expressiva e comunicativa, mostrando-se mais do que apenas uma “princesa muda”: a forma que a personagem é desenvolvida e exposta é incrivelmente honesta e madura. Todos os seus sentimentos nos consegue ser passados, o que reforça por ela uma empatia inevitável e uma forte ansiedade por desejar que a criatura seja salva. Nunca foi tão natural torcer para que um ser humano e um ser de outra espécie estejam juntos.
O filme foi indicado em 13 categorias do Oscar (melhor filme, melhor atriz, melhor atriz coadjuvante, melhor ator coadjuvante, melhor diretor, melhor trilha sonora original, melhor roteiro original, melhor fotografia, melhor figurino, melhor montagem, melhor mixagem de som, melhor edição de som e melhor direção de arte), o que prova e destaca a qualidade do filme. O filme é uma fabula para adultos em que temas complexos e delicados são trabalhados de forma indireta (preconceito, sexualidade, politica), mas sem deixar de lado beleza e pureza, transbordando sensibilidade. É uma obra a ser exaltada e lembrada como uma das grandes obras primas de Guillermo Del Toro, ao lado de Labirinto do Fauno.

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